A diabetes mellitus gestacional (DMG) é a intolerância aos carboidratos diagnosticada pela primeira vez durante a gestação.

É o problema metabólico mais comum durante esse período e tem prevalência entre 3% a 25% das gestações e em alguns casos ele representa o aparecimento do diabetes tipo 2 na gestação.

Um dos grandes desafios para o obstetra é o tratamento da diabetes gestacional, onde o principal objetivo é melhorar a glicemia das pacientes para diminuir a ocorrência de macrossomia fetal, pré-eclâmpsia e óbito fetal.

O que é Diabetes Mellitus Gestacional?

É quando a gestante apresenta aumento do “açúcar no sangue”

Isto ocorre porque durante a gestação, com o ganho de peso da mulher e ação de alguns hormônios, ocorre aumento da resistência à ação da insulina (hormônio responsável por diminuir o açúcar circulante no sangue). 

Quando o pâncreas da gestante não consegue compensar essa maior demanda com maior produção de insulina, ocorre aumento da glicemia.

Esse “açúcar alto no sangue” vai passar facilmente pela placenta e o bebê vai recebê-lo. Com isso, ele poderá ficar muito grande e passar a urinar muito, levando ao aumento do líquido amniótico. 

Esses dois fatores podem aumentar o risco do parto prematuro.

Se bebê ficar exposto a muito açúcar no sangue, durante a gravidez, ele terá maior risco de desenvolver obesidade e diabetes quando for adulto.

Então como evitar e qual o tratamento?

A forma de evitar que estas alterações e complicações aconteçam para a mulher e o bebe é manter o açúcar no sangue normal

Para isso é necessário respeitar a dieta orientada e praticar as atividades físicas propostas. 

A dieta vai diminuir a ingestão de açúcares e vai evitar os picos de hiperglicemia (glicose elevada no sangue) e a atividade física vai ajudar a retirar a glicose da circulação sanguínea. 

Cerca de 60-70% das mulheres com DMG conseguem controlar a glicemia pela adesão à dieta e às atividades físicas e somente um número pequeno de casos ainda poderá ser necessário utilizar insulina, em conjunto com a dieta e a atividade física. 

A terapia nutricional, a atividade física e a monitorização da glicemia assumem importante papel no tratamento do DMG

Essa monitorização normalmente é realizada por meio da glicemia capilar “pique no dedo” em jejum e 1h após as principais refeições.

As gestantes com diagnóstico de diabetes gestacional devem receber orientações nutricionais com o objetivo de atingir as metas glicêmicas, ganho de peso materno adequado e para prevenir a ocorrência de desfechos fetais e neonatais desfavoráveis. 

Considerando as deficiências nutricionais observadas na população brasileira, aliada ao aumento significativo da prevalência de sobrepeso e obesidade, são apresentadas inicialmente orientações nutricionais.

Em geral elas visam uma alimentação saudável que deve ser seguida pela gestante, mas que assume grande importância no tratamento.

Algumas orientações devem ser passadas para as gestantes, como:

  • A ingestão de água filtrada, pelo menos 2 litros (de 6 a 8 copos) por dia, no intervalo entre as refeições;
  • Fracionar as refeições: pelo menos três refeições (café da manhã, almoço e jantar) e dois ou três lanches saudáveis por dia, evitando intervalos maiores de três horas;
  • Gestantes em uso de insulina devem manter os horários fixos das refeições, minimizando-se assim variações glicêmicas;
  • Se for necessário realizar refeições fora de casa, preferir locais que sirvam refeições feitas na hora, evitando redes de fast-food;
  • A gestante deve evitar deitar-se logo após as refeições, com objetivo de prevenir refluxo gastro-esofágico;
  • Não omitir refeições ou ingerir alimentos fora dos horários determinado;
  • Comer devagar e mastigar bem os alimentos, concentrar-se e evitar ambientes de estresse e distração, por exemplo, uso de dispositivos eletrônicos ou outras mídias. 
  • Desestimular o consumo de alimentos processados e ultraprocessados, que são alimentos de alta densidade calórica e alto teor de sódio.

A orientação dietética deve ser decidida conjuntamente com a gestante. O acompanhamento deverá ser feito pelo obstetra e por um nutricionista, o que pode favorecer a adesão à terapia nutricional

Estudos apontam benefícios da prática de exercício físico durante a gestação complicada por diabetes gestacional. 

Resultados maternos indicam concentrações de glicose em jejum e pós-prandial reduzidas e redução da necessidade de uso de insulina.

A caminhada durante a gestação é um tipo de exercício de significativa acessibilidade, de baixo custo, compreensível e de fácil aplicação.

Em caso de impossibilidade de a atividade ser realizada sob supervisão de um profissional, ela poderá ser executada pela gestante nos arredores de seu domicílio, seguindo orientações profissionais prévias.

Em relação aos fatores que incidem no aparecimento da diabetes gestacional, também já foi identificado que o pouco tempo de sono afeta o metabolismo da glicose. 

Segundo um novo estudo publicado na revista Sleep, a má qualidade de sono ou uma quantidade insuficiente durante a gestação pode aumentar o risco de desenvolver diabetes gestacional.

Novos estudos sobre o tratamento da diabetes gestacional

Em março de 2021 foi publicada uma revisão sistemática na revista Femina sobre a terapêutica adequada e atual para as pacientes com diabetes mellitus gestacional que descreve um protocolo baseado em evidências científicas dos últimos cinco anos.

O tratamento está dividido entre o não farmacológico e o farmacológico.

De acordo com a American Diabetes Association (2018), 70% a 85% das mulheres com DMG atingem controle glicêmico com a terapia nutricional adequada. 

Por isso, a primeira conduta que os médicos e nutricionistas devem ter com as pacientes diagnosticadas com DMG é a orientação quanto à alimentação adequada.

Os exercícios físicos de baixo impacto também auxiliam no controle do nível glicêmico pós-refeições, diminui os níveis de hemoglobina glicada e auxilia na insulinoterapia. 

Portanto, se não houver contra indicação obstétrica, a gestante deve ser estimulada à prática de atividade física, mas vale ressaltar que é importante o acompanhamento de um profissional competente da área com um programa individualizado.

E somente quando não for obtido sucesso com as ações terapêuticas, não farmacológicas, é que será necessário iniciar o tratamento medicamentoso.

Nesse caso, a insulinoterapia é a primeira escolha para o controle glicêmico dessas pacientes.

Vale destacar para as futuras mamães a necessidade de um pré-natal adequado para assim realizar o diagnóstico precoce de diabetes mellitus gestacional. 

Ainda é muito comum gestantes com essa patologia chegarem tardiamente no serviço de referência sem terapêutica ou orientação adequada.

E após o parto, quais são os cuidados?

Ainda que a tolerância à glicose se normalize rapidamente após o parto na maioria das mulheres que desenvolveram diabetes mellitus gestacional, o risco de desenvolvimento dela no tipo 2 ou intolerância à glicose é significativo.

A avaliação no pós-parto visa identificar mulheres que persistem com intolerância à glicose ou que se beneficiaram de medidas para prevenção do diabetes.

Estima-se que em torno de 20% das mulheres ainda apresentem intolerância à glicose após no pós-parto.

Após o parto, a puérpera deve ser orientada a suspender a terapia farmacológica anti diabética e retornar em seis semanas para a realização de teste oral de tolerância à glicose (viabilidade técnica total) ou glicemia de jejum.

Esse “teste oral” é popularmente conhecido como “exame da água doce”.

O ideal é que a mudança no estilo de vida da mãe continue mesmo após o parto, para  ajudar a prevenir que o diabetes persista e com isso traga complicações a longo prazo.

Então meninas, cuidem-se! Não só durante a gestação, mas também antes dela e depois. É muito importante tomar esses cuidados para que a gestação e o bebê se desenvolvam da maneira mais saudável possível, ok!?

Dra. Laura Roehe Costa

Médica Ginecologista e Obstetra

CRM 41277 RS | RQE 36270 | TEGO 2884382

(Conteúdo informativo e educacional. Não deve ser utilizado para realizar autodiagnóstico ou automedicação. Em caso de dúvidas, consulte seu médico)


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